Difícil prender aquele laço. A mentira tentou várias vêzes mas a fita escorregava dos seus cabelos. Já estava pronta para a festa de aniversário da colega de escola; vestido branco com saia franzida e faixa rosa na cintura, sapatos «boneca» e meias de seda. Calça jeans e tênis, só quando ia para a escola ou saía de férias com os pais. Se ainda houvesse férias depois dos impasses, ausências e silêncios, de rancores, que deixavam seu irmão chorando pelos cantos, écos cruéis e invernosos abandonos. Pressentia os medos, mas lutava contra as amarguras e trevas preparava suas armas no alto dos seus onze anos.
E o laço não prendia seus cabelos. Queria soltos seus sonhos, apagar seus lumes, sua poesia e segredos.
A mãe, trágica figura de romances; sempre vermelha, lábios açoitados de insultos e lamentos, a mansidão perdida entre cactos.
O pai, o olhar arisco em cruas expectativas, disfarces da indiferença pelo amor, agora áspero, possesso, gangrenado e morto.
De repente, a menina sentiu que a medida da vida são os acontecimentos; aquele laço não segurava porque nada se prende para sempre. Até os laços familiares são frágeis fios que se desfazem se não existe o cantar do amor absoluto. O tempo escoa as emoções simples e apegos confusos, mistura que ultraja o que não tem a firmeza do mármore.
Deixou soltos os seus cabelos e foi ao encontro do irmão que permanecia imóvel com um ídolo asteca.
O pai largou o jornal e acompanhou-os, mãe e filhos, para conduzi-los à festa. Lá fora o sol da tarde derramava-se sobre a paisagem e o vento suspirava nas árvores. A menina sentiu-se alegre e sem surpresas ao descobrir que todas as almas são solitárias.
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